terça-feira, 27 de setembro de 2016

TDAH E FUNÇÕES EXECUTIVAS | ONDE TUDO COMEÇA

O déficit de atenção é visto como um déficit na modulação da atenção – como se sabe, pessoas com TDAH – distração e desatenção conseguem prestar atenção, muitas vezes de extrema intensidade, chegando a um hiperfoco. Entretanto, enfrentam problemas com controle voluntário e auto-direcionado do foco. Já a hiperatividade representa um déficit em inibição motora, assim como a impulsividade está relacionada a uma inibição pobre dos impulsos.

O centro de Comando e Controle do Cérebro
Todos nós precisamos de um conjunto de competências para dar conta da nossa vida, das responsabilidades e compromissos e fazer uso dos recursos disponíveis. Alguns bons exemplos são organização, gerenciamento do tempo, controle das emoções e da impulsividade, estabelecimento de objetivos, planejamento, etc.
Estas competências são conhecidas como Funções Executivas, por estarem diretamente ligadas à gestão dos recursos pessoais e à sua utilização tendo em vista alcançar algum objetivo. É possível entender melhor estas funções comparando-as a um administrador ou gerente de um sistema complexo – no caso, nós mesmos. Estas funções tornam possível lidar com tarefas e resolver problemas como preparar uma palestra, planejar uma viagem ou consertar um brinquedo, por exemplo.
Comando e controle
Todas as funções executivas tem algum tipo de relação com situações onde “comando” e “controle” são necessários – em termos mais amplos, podem ser vistas como as grandes condutoras de todas as habilidades cognitivas. Estão diretamente relacionadas a comportamentos auto-organizados e voluntários. São necessárias para lidar com todas as exigências práticas da vida, bem como enfrentar o stress e manter relacionamentos.
As funções executivas não são habilidades isoladas; muito pelo contrário, são altamente inter-relacionadas e inter-dependentes. Problemas com funções executivas – conhecidos também comoDisfunções Executivas, podem ser encontrados em crianças e adultos sem nenhum outro transtorno ou psicopatologia. Apesar disto, são muito comuns em casos de transtornos psiquiátricos, de desenvolvimento.
Funções Executivas e TDAH
Disfunções executivas são uma marca central do TDAH, tanto que muitos especialistas da área consideram ser esta a origem principal do transtorno. Segundo esta concepção, a essência do TDAH estaria em falhas no controle inibitório.
O déficit de atenção é visto como um déficit na modulação da atenção – como se sabe, pessoas com TDAH – distração e desatenção conseguem prestar atenção, muitas vezes de extrema intensidade, chegando a um hiperfoco. Entretanto, enfrentam problemas com controle voluntário e auto-direcionado do foco. Já a hiperatividade representa um déficit em inibição motora, assim como a impulsividade está relacionada a uma inibição pobre dos impulsos.
A lista de quais habilidades fariam parte destas Funções Executivas varia entre os autores e pesquisadores da área. A lista aqui compilada apresenta as mais importantes e reconhecidas. Os exemplos descrevem situações na qual a função foi ou deixou de ser usada.
  • Inibição
É a capacidade em parar o próprio comportamento quando apropriado ou necessário. Pode envolver parar ações físicas (como parar de comer) ou ter controle sobre os próprios pensamentos (deixar de lado um pensamento negativo).
A inibição é o oposto da impulsividade – a própria definição da impulsividade baseia-se na dificuldade ou pouca capacidade de controlar / inibir os próprios impulsos. A inibição é também um componente essencial da capacidade de “pensar antes de fazer” – ou seja, inibir o curso mais natural da ação por algum tempo. Assim, torna-se possível a manifestação de outras funções mais complexas, como identificar, julgar, ponderar – que, eventualmente, poderão levar a uma mudança ou interferência no curso desta ação.
  • Flexibilidade
É a habilidade que torna possível alternar pontos de vista, posicionamentos ou formas de encarar situações. Esta possibilidade de ter contato ou experimentar perspectivas diferentes torna possível avaliar, julgar e fazer escolhas melhores.
A flexibilidade possibilita alternar, redirecionar o foco da atenção e posteriormente retomá-lo. Por exemplo, um jovem está triste pois a namorada não telefona; daí, tenta se colocar no lugar dela e imaginar porque ela teria deixado de ligar.
  • Controle emocional
Esta é uma das habilidades mais importantes, sob a perspectiva daquilo que nos torna humanos. A capacidade de modular as reações emocionais é fundamental, tanto para os relacionamentos interpessoais quanto para a realização de objetivos. Um homem foi criticado no seu trabalho e imediatamente sente medo em falhar novamente; ao mesmo tempo, consegue entender que o sentimento de mal-estar não significa necessariamente que coisas ruins acontecerão novamente – com isto, passa a sentir-se melhor.
  • Iniciação / volição
É a habilidade em iniciar uma ação ou atividade; também é relacionado à capacidade de gerar alternativas, soluções e estratégias para resolução de problemas. Uma mulher acima do peso precisa fazer exercícios, coisa que não lhe traz nenhum prazer. Ainda assim, pensa em fazer um acordo consigo mesma, prometendo comprar uma blusa nova quando perder uma quantidade específica de peso. Como sabe que terá dificuldade, pensa também em levar o MP3 para a sala de ginástica.
  • Memória de trabalho / operacional
É uma função de memória de curto prazo, que permite manter as informações “na cabeça”, durante a realização de uma tarefa. É muito instável e muito sensível a interferências externas. Um bom exemplo é de memória de curto prazo é discar um número de telefone – é possível mantê-lo na memória enquanto é discado, porém logo é esquecido.
  • Planejamento e condução
É a habilidade de lidar com demandas atuais, relacionando-as a metas e possibilidades futuras, de modo a gerar um plano de ação. Um jovem vendedor pretende trocar seu carro e precisa obter um certo valor com o carro atual. Faz uma pesquisa sobre o valor do carro atual, pondera o quanto custariam alguns reparos e quanto isto agregaria ao valor final de venda. Leva também em conta o tempo necessário para providenciar os reparos, pois prejudicará seu trabalho nestes dias e, portanto, suas comissões.
  • Auto-monitoramento
O monitoramento envolve a habilidade em acompanhar a realização da ação, julgá-la pela comparação com o anteriormente planejado e com os objetivos finais, alterando seu curso caso necessário. Uma professora faz a lista das atividades que devem ser incluídas no seu planejamento de aula. Em seguida, começa a providenciar os materiais para elas. De tempos em tempos, avalia o quanto já avançou e o quanto falta para terminar o trabalho. Como percebeu que foi bastante rápida na seleção das primeiras, sabe que agora tem tempo suficiente para pensar algumas opções bem criativas para as últimas.
  • Organização do espaço e dos materiais
É a habilidade em alterar a disposição e/ou localização de objetos e materiais nos espaços disponíveis, de modo a facilitar o curso das ações relacionadas. Organização é mais que simplesmente ordem e limpeza; mais que isto, tem relação direta com facilitar os objetivos planejados. Uma mãe precisa arrumar a mala das crianças e colocá-las no carro para a viagem de férias. Como sabe que a viagem será longa, deixa ao fundo as malas de roupas e, mais acima, duas mochilas com brinquedos e uma sacola com bebidas e biscoitos.
Escrito por Cacilda Amorim, Psicóloga e Coach Comportamental
Diretora do IPDA – Instituto Paulista de Déficit de Atenção
Idealizadora do MinhaSuperAÇÃO

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